domingo, 11 de setembro de 2011

Os brinquedos

  Não havia televisão, não havia rádio, não havia cinema...tudo nos servia de brinquedo! Os meninos ricos deviam ter brinquedos mais elaborados mas, não era o meu caso. A mim e e os meus irmãos tudo nos servia de brinquedos! A minha irmã tinha mais 18 meses do que eu, mas começou a costurar muito pequena, era muito habilidosa de mãos (costurava e bordava muito bem) e então fazia-nos bonecas de trapos. Também tive uma boneca de compra que a minha mãe me deu na Feira de S. Martinho, pequeno povoado que fica a cerca de 8 quilómetros da minha aldeia.
   Nunca tive uma bicicleta nem conhecia tal coisa; Lembro-me de andar de burro! Agora é ao contrário: toda a gente sabe andar de bicicleta e andar de burro deve ser uma excentricidade! 
   Montávamos no burro ou no macho do meu pai quando íamos a Garvão, eu e a Joaquina, visitar uns tios meus que lá viviam! Garvão fica a 7 ou 8 quilómetros de Santa Luzia e por sua vez, Ourique, que é o concelho, fica a 18 quilómetros da minha aldeia! Ourique é a terra onde se deu a batalha em que D. Afonso Henriques derrotou os mouros e a quem, dizem as lendas, apareceu Jesus Cristo a garantir-lhe a vitória! Por esse motivo, a Bandeira Portuguesa tem as Cinco Chagas de Cristo!
   Os jogos a que brincava eram muito parecidos com os jogos de hoje mas as meninas brincavam normalmente afastadas dos rapazes.
   No Natal não havia prendas. Não havia dinheiro para prendas e ninguém ficava triste por isso. Havia, no entanto, doces e refeições melhoradas! 
   A minha mãe aproveitava a época do Natal para nos comprar umas roupinhas mais quentes. Lembro-me de estrear pelo Natal um vestido quente e pelo S.João um vestido fresco. Recordo-me de termos, eu e a minha irmã, uns casaquinhos vermelhos e chapéuzinhos a condizer de lã que a minha madrinha nos tinha feito. A minha madrinha chamava-se Mariana e era irmã do meu pai. Era costureira e também trabalhava em roupa de homem. Não tinha filhos. Trabalhava muito e alimentava-se mal. Morreu nova, tuberculosa! Tive muita pena dela, apesar de ser ainda criança quando ela morreu!
   Não me recordo de ter tido festas de aniversário. Naturalmente, a mãe, se podia, fazia um jantar melhorado. Eu recordo-me de me dar um tostão para comprar rebuçados mas não me lembro que quantidade podia comprar. 
   Naquele tempo havia muitos piolhos e eu recordo-me que a minha mãe gostava muito que nós a catássemos apesar de nunca lhe ter descoberto nenhum! Eu e meus irmãos tínhamos que ser catados todas as semanas! A minha mãe gostava tanto que lhe mexessemos no cabelo que nos dizia "dou-te um tostão ou dois, se o fizeres!" Claro que isso era argumento suficiente e feito o trabalho e recebido o dinheiro, abalava a correr com ele bem fechado na mão; ia comprar uma surpresa que era uma caixinha com qualquer brinquedinho lá dentro, sempre diferente de vez para vez!
   

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