segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Manuel

     Era considerada uma rapariga bonita e tive alguns apaixonados. Coitados, morreram todos jovens! Eu não fui namoradeira, só namorei o meu marido e foi um caso muito engraçado. 
   Fiz a prova final da  4ª classe em Ourique no mesmo dia que os alunos de Garvão. Nesse grupo estava o Manuel, o meu futuro marido. Em toda a prova escrita, ele que estava numa carteira ao lado da minha, só me fazia perguntas. Se eu ficava calada, ele dizia-me "Tu não dizes é porque não sabes!" e eu que não queria ficar por não saber ia-lhe dizendo! Já nessa altura era um rapaz que gostava de chamar a atenção! Só voltei a vê-lo num baile pela Páscoa, quando já tinha vinte anos. Vi aquele rapaz loiro e de bonitos olhos azuis e perguntei a uma amiga quem era; ela respondeu-me: Manuel Loução! Naturalmente, ele teve a mesma curiosidade e foi buscar-me para dançar e fez-me a mesma pergunta que tinha feito no exame da 4ª classe: "Você é irmã do António César?". O António era o meu irmão que trabalhava na loja do meu tio César, irmão de meu pai, em Garvão. Eu respondi-lhe afirmativamente pelo que ele declarou "então é minha prima!" Os nossos pais eram primos irmãos mas não me recordo nunca de se visitarem. Viviam em terras distantes, 10 quilómetros era uma grande distância, e nesse tempo as pessoas pobres não tinham tempo de fazerem visitas, grande parte dos seus dias eram passados no campo a trabalhar. 
   O que é certo, é que este meu novo primo, em 3º grau, foi-me buscar em todas as danças com excepção de uma. Nessa, fui dançar com outro rapaz e o Manuel deitou-me uns olhares, furioso que estava! Eu pensei na altura " por dançares comigo umas vezes já pensas que és meu dono?!"
   A partir dessa altura fazia todos os possíveis por passar onde eu estivesse até que se resolveu em pedir-me em namoro! Eu aceitei não sei porquê. Estava com 20 anos e naturalmente achava que já era altura!
   O namoro durou mais de seis anos e só nos víamos quando ele vinha de férias. Ele sempre foi muito janota mas também muito pobre! Para me visitar fazia os 10 quilómetros que separavam Garvão de Santa Luzia em estrada de terra batida mas chegava a minha casa sempre perfeitamente luzidio! Soube, anos mais tarde que quando chegava aos limites da aldeia, dirigia-se para um muro de pedra onde tinha escondido uma escova de sapatos e aí limpava os sapatos de algum vestígio de terra! Chegava até mim sempre composto e bonito!

2 comentários:

  1. È a mãe que te tem falado disto ou vais tirando do caderno que escreveu ou das tuas memórias? È uma boa forma dos nossos filhos ficarem com uma recordação da avó e da sua familia pois eles não tiveram a sorte de ter contato proximo com os tios , bisavós e outra familia e se não for a memória escrita perde-se tudo. Sermos filhas de pais velhos tem o seu inconveniente ( há outros). Tenho andado a vasculhar pelos teus blogs pois hoje parece que as grávidas resolveram parir noutro hospital e deixam-me tempo livre. Beijinhos R

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  2. Olá, agora aqui no Alentejo.
    Chame-lhe coincidência; chame-lhe o que quiser.
    Por causa de um comentário seu, na página da Ana celeste, vim dar aos seus blogs.
    Quis o acaso que lesse este post e li Ourique.
    Eu vivi em Ourique, filha de professora primária nas Piçarras, fiz a 4ª classe em Beja!
    E adoro o Alentejo.
    Um abraço
    Isabel

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