domingo, 11 de setembro de 2011

A minha família

   A minha mãe chamava-se Bárbara Sabino e o meu pai José Prudêncio Dias! Os meus pais tiveram oito filhos. O primogénito morreu quando ainda era pequeno. Recordo-me da minha mãe falar nele com muita pena e de nós ficarmos muito penalizados. Como éramos muitos e havia poucos quartos, nas famílias pobres, tínhamos que dormir dois e três na mesma cama. As pessoas que eu conheci eram todas ou quase todas pobres, mas só me lembro de duas famílias serem miseráveis.Pobres sim mas havia sempre trabalho e as pessoas como não tinham auxílio de ninguém, tinham que trabalhar. No inverno sentia-se mais a pobreza porque havia anos que chovia muito e as pessoas não podiam trabalhar.
   Na guerra de 1914-1918 ainda não era nascida mas sei muitas coisas dessa época porque o meu pai, participou nela. Era militar da cavalaria e foi mobilizado para Angola na luta contra os alemães. Entre as muitas histórias que o meu pai me contou, sobre a época em que viveu em África, uma houve que ficou marcada na minha memória para sempre: certo dia, o meu pai foi dar de beber aos cavalos e encontrou um miúdo negro todo nu. Para implicar com ele e ver o que o miúdo respondia, disse-lhe na língua dele, que lhe batia; o miúdo respondeu-lhe em bom português " porque me bate se eu não estou a fazer mal?". O meu pai, admirado disse-lhe que não lhe queria fazer mal, que estava a brincar e perguntou-lhe se queria ir com ele. O rapazinho tinha contado ao meu pai que lhe tinham morto os pais e este comovido pensou imediatamente em levá-lo para junto da sua companhia. E assim o fez! Levou o pequeno e duma saca de farinha fez-lhe uma roupa improvisada Quando regressou a Portugal deixou-o junto com os outros militares.
   Eu sempre vi que o meu pai tinha muita pena de não ter sabido mais do rapaz!

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