quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O Doutor Serpa, doenças e mesinhas caseiras

   As doenças mais preocupantes da altura eram as febres intestinais, o garrotilho e o sarampo. Lá em casa sofria-se muito com dores de ouvidos. Recordo-me especialmente de dois médicos, na altura, ambos muitos bons e que viviam em Garvão. Sempre que precisávamos eles consultavam-nos em nossa casa. O primeiro médico que conheci foi o Dr Serpa de quem tenho a maior parte das recordações. O 2º médico foi o Dr Manuel Loução Martins, natural da minha terra e ainda parente do meu marido. 
   O Dr Serpa mostrava ser uma pessoa pouco simpática mas era um grande médico. O meu irmão mais velho esteve às portas da morte com a febre tifoide e o médico já não sabia o que lhe havia de receitar. Uma das vezes que lá foi disse a meus pais que não lhe receitaria mais nenhum medicamento mas propõs que se experimentasse o seguinte procedimento, que os meus pais teriam que cumprir à risca, "claro que sim Sr Dr. ": "pois então, enchem uma banheira de água à temperatura do corpo dele e deitam-no lá dentro: Uma pessoa pega numa vasilha de água fria e vai deitando até que ele estremeça de frio. Tiram-no. Secam-no muito bem e dão-lhe uma massagem com vinagre aromático". 
   Foi um milagre. Ao terceiro banho o meu irmão estava melhor e recuperou depressa e rapidamente ficou com fome. A minha mãe deu-lhe um pouco de um pêro. O Dr Serpa ao saber disso não gostou e disse-lhe que " comesse cascas de piolhos!". Para além disso acusou a minha mãe de lhe dar pêro podre já que a minha mãe lhe mostrou o resto do pêro e estava oxidado, como acontece com a fruta. Não contente ainda acrescentou " se ele morrer foi você que o matou com o pêro!". Coitada da minha mãe, ficou aflita, era muito bruto o Dr Serpa! E graças a Deus ele não morreu, viveu até aos 73 anos.

   Tive as febres intestinais quando tinha quase 7 anos. Recordo-me que estive 20 dias de cama. Não quis médico. Quando me falavam em chamar o médico, eu chorava.Os meus 3 irmãos mais velhos já tinham estado muito doentes e os meus pais não tiveram auxilio nenhum. Estavam sem meios de poder pagar e como eu chorava muitos iam-me fazendo mesinhas. A minha avó sabia muitas rezas e fazia-me chás diversos. Nada resultou até que, em desespero, resolveram matar um pombo, partiram-no ao meio e puseram-no com panos atados, nas solas dos meus pés. Eu melhorei! Foram os pombos ou a vontade de Deus, não sei! Não morri e ainda cá estou, com quase 80 anos mas muito esquecida e a escrever muito mal.

   Ainda a propósito das mesinhas caseiras e das rezas para curar; certa vez, de Beja pediram que pessoas que soubessem de rezas as mandassem porque iam fazer um livro com as orações que os curandeiros faziam. A minha mãe disse-me as que sabia e eu escrevi-as e mandei-as. Nunca cheguei a ver o livro e nem sei se ele chegou a ser feito.

1 comentário:

  1. eu acho que o doutor serpa logo mouro em ourique ate morrer

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