sábado, 1 de outubro de 2011

Canseiras!

   Comecei a trabalhar muito cedo: primeiro para cuidar dos meus irmãos e assim ajudar a minha mãe e depois ajudando nos trabalhos domésticos e do campo. O meu pai vivia da agricultura e por isso todos tínhamos que trabalhar logo de pequenos. Cheguei a trabalhar junto com a minha irmã, numa manhã de um dia 1º de Janeiro, na apanha da azeitona, de que ano não me lembro e ganhar, ou darem-nos que é melhor dizer, sete e meio que era um tostão e mais meio tostão. Quando trabalhava no campo ia a pé, se o trabalho era perto, se era longe, ia na carroça que o meu pai tinha. Uma vezes levava almoço, outras vezes os meus irmãos mais novos iam levá-lo ao meio-dia.
   Quando comecei a dar aulas, num posto escolar em Garvão, ganhava 250 escudos por mês. Vivia em casa dos meus tios. O meu tio tinha uma loja de tecidos e mercearia mas tinha havido a guerra. As pessoas estavam muito pobres, pouco compravam e o que compravam, mais das vezes, era sem dinheiro, fiado. O meu tio disse-me, um pouco envergonhado: "aceito o que me quiseres dar porque a vida está muito mal." Eu dava-lhe 100 escudos e ficava com 150 escudos. No 1º mês comprei tecido na loja do meu tio e fiz um casaco para oferecer à minha mãe. Com o pouco que ganhava sempre ajudei os meus pais. Foi por essa altura que encontrei o meu primo Manuel que veio a ser o meu marido.
   Não me lembro de alguém na minha terra fazer greve ou falar de sindicatos ou nos direitos dos trabalhadores. Sei que nalgumas terras havia alguns movimentos, um pouco escondidos, que diziam ser dos comunistas. Havia muito trabalho sempre mas as pessoas tinham poucos bens, recebiam muito pouco dinheiro pelo seu trabalho e viviam resignadas. A rapaziada, então, não se lembrava das agruras: de noite andavam pelas ruas em grupo e a cantar alentejano. Alguns tinham uma óptima voz!  Lembro-me de estar a dormir e a minha irmã me acordar para eu ouvir, escondidas atrás das cortinas, os rapazes que vinham cantar por debaixo da nossa janela! A minha irmã adorava a vida! Ela alegre, bem humorada, morreu aos vinte e cinco anos, de uma queda no poço da nossa cerca!

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